quinta-feira, 9 de julho de 2015

Amnésia

A pior coisa é perder a memória.

Visão, a gente acostuma. A gente utiliza pontos futuros (joga estilo Ronaldinho Gaúcho: jogando nos futuros e virando a cabeça); faz inúmeros cálculos (mesmo que inconscientemente e que eles nem sempre deem certos); desvia de um objeto ou de uma pessoa, graciosamente, de última hora; faz acrobacias e peripécias mil. Dignas de integrantes do Cirque du Soleil; e, mesmo assim, quando nada disso é suficiente, a gente abre um sorrisinho de escárnio e diz: "É... Dessa vez não deu." E continua a viver.

Movimentos, nós, com muito esforço e dedicação e disciplina e lágrimas e suor (suar lágrimas, sangrar suor, chorar sangue) acostumamos. O ser humano é algo tão incrível que precisa ser estudado. Porque, mesmo fodido, ele consegue se recuperar. De tudo. Ou quase tudo. E, com a visão falha, batendo nos postes, nos armários e nos móveis; a gente se vira. Vai tropicando, vai colidindo... Mas, uma hora... De tanto colidir... Não colide mais. E anda, graciosamente, tal qual um amável e respeitável senhor de monóculo e bengala; vai lá e consegue, ao que parecia, à primeira vista, impossível.
E recupera os movimentos.
E recupera a força.
E recupera a habilidade.
Mesmo que não da forma que eu queria. Mas recupera. Consigo hoje substituir futebol por hidroginástica; vôlei por malhação. Não é nunca o que eu queria. Mas é o que tem para hoje.

Agora... A memória... A memória... Meu amigo... A memória... Não há o que fazer. Só não há. Não há nem como descrever, mensurar; discretizar... O que é perder a memória. Porque só quem passou por isso (e se recuperou (ou está em fase de recuperação)) sabe. Não há calendário(s), post-it(s), lembrete(s), despertador(es), pessoa(s), anotação(ões)... Suficientemente existentes na face da Terra para que eu possa me recordar de tudo. Desde a hora de acordar, até ir para o dentista; ou então aquele relatório super importante que é para amanhã; a matéria da prova; a matéria que eu estou estudando que eu preciso reler todas as vezes pelo menos dez vezes para que eu possa pegar só um pouco; não saber aonde estão nem a sua ficha da academia nem em qual exercício você está para ir procurar perto da máquina (ou em qual exercício você parou ou quais exercícios você já fez); aonde eu parei no livro que eu estou lendo; aonde está o carro; aonde eu parei na leitura quando alguém me chama e eu, acidentalmente, fecho o livro (ou não. Não preciso fechar. Eu só não lembro de ter lido aquele trecho); matérias de concurso; matérias no geral (desde as matérias dos jornais até as matérias da faculdade que eu preciso gravar desesperadamente)... Existe um mol de coisas que ninguém é capaz de imaginar, mensurar, sonhar que são difíceis para mim. Muito difíceis. Do nível insano. E tem mais. Muito mais. Essas aí em cima, foram só as que hoje me incomodou e que eu lembrei. Mas se eu parar para pensar, consigo colocar muito mais aí.

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